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Mario Vargas Llosa e o ofício de imprimir silêncios
Um tributo ao escritor que escreveu com a mesma precisão que exigimos das boas impressões: camadas, registros e alinhamento perfeito.

No último dia 14, perdemos Mario Vargas Llosa — autor monumental, Prêmio Nobel de Literatura em 2010 e último expoente vivo do chamado boom latino-americano. Sua partida marca o fim de uma era da literatura em língua espanhola, uma era em que o romance ocupava o centro do debate cultural e político do continente.
Seu último livro, Le dedico mi silencio, publicado em 2023, já parecia uma despedida. E talvez o título diga mais do que imaginamos: dedicar o silêncio é, para muitos artistas — escritores ou impressores — um gesto final de precisão, de entrega, de capricho. Algo que também conhecemos bem nas artes gráficas.
LITERATURA COMO IMPRESSÃO
A literatura de Vargas Llosa sempre foi rigorosa. Ele montava os romances como quem monta uma impressão offset de múltiplas cores e registros complexos: exigia alinhamento perfeito entre enredo, tempo e ideologia. Escrevia com camadas — como quem sobrepõe chapas em sucessivas passagens na máquina, buscando revelar, ao fim, uma imagem nítida, provocadora, crítica.
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AJUSTES E REIMPRESSÕES
Assim como em nossa atividade gráfica, Vargas Llosa sabia que o conteúdo não bastava. É preciso forma. É preciso estrutura. Revisão. É preciso ajustar o registro da vida política com a linguagem literária, do mesmo modo que ajustamos o registro entre o papel e o clichê.
Seu percurso político, do entusiasmo revolucionário dos anos 1960 à defesa liberal nas últimas décadas, pode até causar estranhamento — mas também revela coragem. A coragem de se reavaliar, de se reconfigurar. Um tipo de “reimpressão” de si mesmo, com nova matriz.
UM LEGADO IMPRESSO COM PRECISÃO
Vargas Llosa nos deixa o legado da palavra bem impressa. Da literatura que, mesmo silenciosa, reverbera como manchete em primeira página. Para quem trabalha com tinta e papel, ele segue como exemplo: o escritor-artesão, o intelectual que sabia que a beleza exige precisão — e que até o silêncio pode ser impresso, se for bem composto.
Com admiração,
Antonio Dalama
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#PerspectivaRotatek - Uma reflexão sobre eventos atuais e do passado, em conexão com a indústria gráfica.

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